No que se refere aos caminhos apontados no meu último artigo, a propósito do ensino e preparação dos profissionais portugueses, deixo aqui, com toda a humildade, algumas sugestões que resultam da experiência que tenho vivido e das necessidades que tenho sentido relativamente à formação contínua e à requalificação, no âmbito da minha empresa e no desenrolar da sua atividade. Excetuando uma “meia dúzia” de produtos e serviços é, atualmente, impossível antever em mais de 2 anos as dinâmicas de mercado. É sabido, no entanto, que a velocidade de resposta exigida é crescente e varia diariamente. O uso das novas tecnologias, a eficácia no trabalho, a eficiência comercial, fabril, logística, financeira, etc. são determinantes para que ela seja dada com a rapidez necessária.

Esta proficiência exige uma ampla e multidisciplinar formação nas mais variadas áreas do conhecimento, sendo transversal o das tecnologias de comunicação.

Por acreditar que uma organização que aprende e partilha conhecimento é uma organização que gera autoconfiança coletiva, tendendo, dessa forma, a perpetuar-se, insisto diariamente com os colaboradores para realizarem formação pertinente.

Para lá da formação habitual em sistemas produtivos e uso de máquinas, bem como no incremento do conhecimento técnico, a formação integral e multidisciplinar é absolutamente crucial para que a empresa possa manter a sua capacidade de resposta ao mercado.

Na área das competências de comunicação – referidas no artigo anterior e responsáveis pelo efeito regulador da dinâmica das equipas, bem como da adequada e assertiva dinâmica da resposta ao cliente – em particular a liderança, a negociação, a arte de comunicar, a gestão do tempo, os comportamentos “lean” e a gestão racional, essencial na formação e tomada de decisão, são indispensáveis nos dias de hoje. Apesar da sua incontestável pertinência, nem sempre se encontram nos profissionais que o mercado disponibiliza.

Não raro o profissional apresenta falhas em componentes como a autodisciplina, a humildade ou o empenho ou, mesmo, na capacidade de dar a si próprio a oportunidade de experimentar e sentir os efeitos benéficos da aquisição de conhecimentos continuados, da prática de atividade física, da aprendizagem através do erro, do interacção com colegas e amigos, do intercâmbio de conhecimento e da retenção deste conhecimento (sendo que a falta de capacidade de memorização é uma realidade preocupante).

Questiono se para tal não terá contribuído o facto do sistema educativo no seu todo – escolas, famílias, sistema religioso e sociedade em geral- se ter tornado excessivamente tolerante e pouco exigente na educação dos seus membros.

Perceciona-se que em casa e na escola, pais e professores têm vindo a perder autoridade.

Tem, simultaneamente, vindo a ganhar uma enorme força a chamada “educação pela positiva” que aponta para uma constante e crescente valorização da autoestima do indivíduo, em detrimento de uma educação mais severa que condenava e punia o erro alertando o individuo para a importância de os evitar. Contudo, será este constante foco na hipervalorização da autoestima do individuo a melhor, ou única, opção para formar o futuro profissional?

Deparamo-nos com uma vida profissional cada vez mais acelerada, repleta de contrariedades e desafios complexos que exigem de forma crescente estratégias de resolução coletivas assentes em trabalho de equipa e, consequentemente, na capacidade de partilhar e juntar o conhecimento de cada um, em prol de um objetivo maior que é o de resolver bem e com proficiência os problemas e os desafios que vão surgindo.

O hábito de comunicar por sms, Facebook e WhatsApp, Twitter entre outras redes sociais, é realmente muito útil. Todavia, contribui para acentuar a ausência de contacto pessoal entre os indivíduos. Toda a comunicação não verbal, o toque, o cheiro, o olhar deixaram, em grande medida, de fazer parte do sistema de comunicação, levando a uma incontornável diminuição dos afetos, da proximidade e da perceção do potencial do outro e, consequentemente, à diminuição da a vontade de partilhar.

 

É, neste contexto, minha convicção que, de forma transversal, o ensino médio e superior, deveria, há muito, ter passado a incorporar nos seus planos de curso o ensino de Competências de Comunicação…

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