Todos quanto militamos no mundo profissional privado, nos queixamos, há alguns anos a esta parte, da falta de bons e adequados profissionais.

No momento atul, a realidade é ainda mais preocupante: falta, nos diversos setores industriais e comerciais, muita mão de obra especializada, seja ela bem ou mal preparada…

Simplesmente, “não há gente para trabalhar” queixam-se os empresários. 

Quando analisado o desemprego jovem, estranhamente fala-se em 7,2% de taxa de desemprego no final deste primeiro trimestre. No caso concreto dos jovens graduados, essa taxa sobe para mais de 17%.

Existem cerca de 44 000 jovens licenciados sem trabalho. Os jovens que entram nesta categoria nem estão a estudar, nem em qualquer outro tipo de ação de formação, e não tiveram ainda atividade remunerada, independentemente de a terem procurado ou não. Os dados do INE mostram que no total, a maioria dos jovens “nem-nem” são desempregados (perto de 60%), mas ainda há cerca de 40% que são inativos, isto é, que não têm trabalho e nem o procuraram.

Porque é que isto acontece? 

Dizem os especialistas que: “Tem sobretudo que ver com as qualificações em causa. Muitas vezes a formação que as pessoas têm não corresponde à procura”. “Qualquer pessoa desempregada, ou que não está em formação, está-se a desqualificar”. “Há uma desvalorização do capital humano.” 

“É muito preocupante porque é um fator produtivo potencial, que está na altura das suas maiores capacidades e que não está a ser aproveitado.”

Na minha opinião de empresário, a causa deste problema está no enorme hiato que existe entre as qualificações que o mercado procura, que necessita e que vai necessitar nos próximos anos e a formação que as escolas secundárias e as universidades proporcionam. Falta coragem política para mudar esta realidade que tanto afeta o crescimento da economia e que tanto prejudica a criação de sustentabilidade económica das empresas.

Recentemente, assisti a uma conferência sobre educação em Portugal, proferida por um ex-reitor de uma importante universidade portuguesa que afirmou ter sido sempre contra esta nova moda dos mestrados integrados e a favor das licenciaturas de três anos preconizadas por Bolonha.

Cito: “São um desperdício os dois anos em que os alunos investem no mestrado, quando na atualidade não se conhecem mais de 50% das profissões que vão existir nos próximos cinco anos. A realidade atual indica que os profissionais de educação, nomeadamente os graduados, precisam de se habituar à ideia de que a formação ao longo da vida é absolutamente essencial para todos e também para eles. A formação integral e multidisciplinar do cidadão com novas competências dos graduados é essencial, nomeadamente as de comunicação (liderança, trabalho em equipa, respeito mútuo e arte de comunicar), as de consciência cívica, (profissionalismo, serviço público, compromisso social e cidadania global), as de criatividade, (empreendedorismo, inovação e síntese interdisciplinar), as de caráter, (comportamento ético, integridade e caráter moral). A autodisciplina, conhecimento disciplinar profundo, aprendizagem ao longo da vida, são atitudes também elas essenciais nos profissionais atuais.”

Apontou caminhos que volto a citar:

“- Continuar a investir na educação fazendo dela um desígnio nacional;

– Investir fortemente na formação inicial de professores, bem como, na sua formação ao longo da vida;

– Dignificar as carreiras docentes e aumentar a sua exigência;

– Investir, valorizar e melhorar o reconhecimento social da formação vocacional/profissional, (cursos profissionais e técnico-profissionais superiores)

– Reorganizar o ensino superior;

– Flexibilizar o ensino superior de modo a acompanhar as mudanças ao nível do mercado de emprego

– Investir na formação dos adultos;

– Formar e investir na formação ao longo da vida incluindo a re-orientação profissional.”

Confesso que estou absolutamente de acordo com o que ouvi. Fico na esperança que esta mensagem, tão lúcida e tão absolutamente definidora e clara sobre o que é necessário fazer urgentemente, possa chegar aos responsáveis do sistema educativo, fazer eco e servir de manual de implementação.

Entendo, também, que este é um desígnio de todos nós cidadãos, nomeadamente a comunidade empresarial e por essa razão passo a mensagem…

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