Como é habitual, no início de cada novo ano, interrompo a série de artigos que estou a escrever para elaborar, partilhar ideias e perceções sobre Economia, concretamente relacionadas com os agentes económicos que vivem direta ou indiretamente do Setor da Madeira e do Mobiliário.

Estruturalmente, a nossa economia, sofre de momento de alguns constrangimentos, nomeadamente, o financiamento às PME. Estas são os mais importantes agentes económicos da nossa economia, as que mais empregam e, não menos importante, as que mais podem acelerar as tão necessárias exportações.

Acontece que a banca, genericamente, não possui um conhecimento profundo dos negócios das PME, revelando lacunas no que concerne ao funcionamento e, consequentemente, as necessidades reais de financiamento das PME. Por esta razão, não raramente, falham no apoio financeiro atempado e adequado às suas necessidades. Seria importante aprofundar esta situação, permitindo financiar mais eficaz e adequadamente as nossas empresas.

O nosso sistema de ensino enfrenta inegáveis desafios. Num tempo em que a aprendizagem está à distância de um click e o percurso académico sobrevive a uma desvalorização e desatualização constante, vivemos uma desadequação do ensino formal/ académico à realidade das empresas. A transferência de conhecimento do sistema educativo para as empresas não flui. A chamada “co-geração” do conhecimento, que passa por colocar as escolas, as universidades e os politécnicos a colaborarem em conjunto na formação dos profissionais em ambiente laboral, tarda a acontecer em pleno. Este conceito há muito é defendido por várias individualidades, como por exemplo, o atual reitor da universidade de Aveiro ou o ex-secretário de Estado da inovação, Carlos Oliveira. Será, em conformidade, necessário criar legislação que impulsione escolas secundárias, universidades e politécnicos a afetar uma parte significativa dos seus recursos financeiros e humanos na promoção do ensino e da formação profissional nos locais de trabalho. Nas empresas será possível colocar alunos e professores a trabalhar durante uma parte significativa do curso, aprendendo e, em simultâneo, ensinando boas práticas. Muitas PME estão seguramente disponíveis para tal e possuem condições e instalações apropriadas para o efeito.

Adicionalmente, a atual falta de mão de obra em variados setores da economia nacional, bem como com a canibalização da mão de obra existente entre empresas nacionais e multinacionais, constitui um grave problema no contexto de pequenas e médias empresas, que pode pôr em risco a base da estrutura empresarial.

Somos um dos países mais pobres da economia europeia… Simultaneamente, somos um país envelhecido, cujos índices de natalidade estão perigosamente baixos. As políticas de incentivo à natalidade são necessárias, contudo, não resolvem o problema no imediato. Urge haver mão de obra disponível e adequada. Portugal terá nos próximos 20 anos, necessidade de 1 milhão de novos profissionais (50.000 trabalhadores por ano), o que só será possível existindo uma tomada de medidas que facilitem e agilizem a fixação de pessoas convenientemente qualificadas.

Verifica-se, ainda, que o ambiente em Portugal é hostil para os empresários. É necessário tornar o nosso contexto num espaço atrativo para os atuais e para os empreendedores vindouros, uma vez que nas atuais condições poucos serão os empreendedores que desejam, ou que arriscam, ser empresários. Num curto espaço de tempo, ficaremos sem empresários portugueses…

Sem novos empresários, não existirão PME, não existirão empregos portugueses, nem pessoas com a camisola portuguesa vestida no mundo empresarial. As empresas serão estrangeiras… serão grandes, mas, na realidade, não precisarão de Portugal em particular…

Enquanto isso, a mão de obra qualificada fica cá temporariamente, ou seja, permanece em Portugal somente até encontrar uma melhor oportunidade internacional. A economia portuguesa ficará ainda mais dependente dos estrangeiros e do seu poder. Já perdemos as comunicações, já perdemos a elétrica, já perdemos a banca…  Queremos também perder o pouco poder que temos através das nossas PME, da sua agilidade, do seu empenho, do seu otimismo e empreendedorismo, mesmo nos momentos mais difíceis como aquele que passámos durante a tróika?

Será, pois, premente o Estado promover programas segmentados para a criação de empresas e empresários. Programas que comuniquem e incentivem a atividade empresarial como algo bom, honesto, viável e atingível!

 

 

A todos, desejo um bom ano de 2020!

 

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