Estive, recentemente, no belíssimo Museu da Vista Alegre em Ílhavo, numa conferência sobre Inovação, promovida por uma prestigiada instituição bancária espanhola que atua em Portugal e moderada por um conhecido Jornal Português ligado ao mundo dos negócios.

Nesta conferência, que teve como orador principal Carlos Moedas – comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação – falou-se muito de Inovação numa perspetiva interessante, sobretudo para aqueles empresários que, hoje, se preocupam em planear as suas empresas, pelo menos para os próximos 5 anos.

Porque gostei de lá estar e porque considero ter tirado partido do que lá ouvi dizer a vários oradores de prestígio, partilho com os leitores habituais dos meus artigos algumas notas que fui tomando.

A sala estava repleta. Falou em primeiro lugar, o comissário Carlos Moedas para dizer que muitos políticos em muitos países ainda não perceberam a importância da Inovação, apesar de se tratar da primeira e principal alavanca para o crescimento económico. “Muitos dos primeiros-ministros e chefes de Estado nem sequer falam em inovação” refere e adverte que é necessário mudar de paradigma e dar relevo a esta área nas estruturas dos governos.

Dado o exponencial desenvolvimento que a inteligência artificial, nomeadamente o “machine learning”, vai impulsionar, considera Carlos Moedas que não imaginamos, hoje, quais serão as profissões do futuro, somente que vão estar algures entre as várias disciplinas do conhecimento.

“É, pois, natural que os vossos filhos tirem Engenharia Civil e vão trabalhar numa área completamente diferente, mas vão contribuir para essa área de uma forma mais eficiente, outros tirarão direito e vão trabalhar em ciência porque isso também vai contribuir para a ciência.” afirma e continua…

“Acho que o tempo das profissões muito verticais e delineadas acabou. Recentemente, visitei uma universidade nos Estados Unidos em que os alunos escolhem quais as disciplinas que querem aprender… Por exemplo, escolhem música e física e a universidade faz-lhes um curso superior de música e de física.

É interessante notar que muitos dos maiores físicos atuais são também músicos”.

É a multidisciplinaridade de conhecimento que vai efetivamente ser necessária nos profissionais do futuro, pelo que alerta para a rápida mudança de paradigma que tem que ser abraçada pelo sistema educacional, uma vez que este continua a resistir na sua adaptação às mudanças que são necessárias.

“Tenho ido muito à Finlândia, que está a fazer uma grande experiencia na educação que acho que vale a pena acompanhar” diz.

Os Finlandeses já têm o melhor ensino secundário da europa e decidiram agora que metade das disciplinas do ensino secundário não têm que ser ensinadas de forma tradicional.

Eles olham para um evento, por exemplo a Segunda Guerra Mundial e estudam, em torno desse evento, todas as disciplinas com ele relacionadas. Desta forma, áreas do conhecimento como a Geografia, a Sociologia, a Química e a Matemática são estudadas na sua relação com o acontecimento em causa, possibilitando que alunos, ainda muito novos, estudem bem essas disciplinas e as inter-relacionem a propósito do evento em estudo, permitindo-lhes começarem a sentir-se à vontade a navegar entre elas, (que naturalmente devem estar bem-sabidas), tirando daí novos conhecimentos que os levam a fazer novas descobertas.

“É importante libertarmo-nos daquilo que foram as nossas ideias do passado, considero que a interdisciplinaridade é fundamental e está provado, hoje, que isso é essencial para fazer inovação. As empresas precisam dessa diversidade de conhecimento que é fundamental para fazerem inovação” refere ainda.

Intuo, revisitando o que escrevi no meu artigo anterior, que o que Carlos Moedas pensa corresponde à realidade que vejo e antecipo.

Recordo uma frase do Eng.º Belmiro de Azevedo, que dizia:

– o homem Sonae, é um individuo capaz de evoluir do seu estado de competência técnica para o estado de homem culto em geral.

Percecionam-se grandes semelhanças, em momentos muito diferentes do tempo e, sobretudo, em idades de aprendizagem também elas muito diferentes.

Tudo hoje é muito mais célere e tudo hoje começa muito mais cedo.

O tempo é de acelerada mudança, são sobretudo os mais instruídos que têm a obrigação de a perceber e de se posicionarem como os seus mais entusiastas impulsionadores…

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